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sábado, 26 de junho de 2010

INÓPIA NACIONAL (Guina)

INÓPIA NACIONAL
(À Pablo Neruda, in memorian)


Houve, por trás
Todo um engenho jurídico
De leis aqui
De leis acolá

Tudo muito bem definido
Um arcabouço de conceitos
Sutil, perverso, mentiroso

Criando nossa pobreza
Nossa ignorância
nossa ignomínia

Até alterar nosso corpo
Mudar nossa face
mudar nosso riso
Pela fome quotidiana.

Houve por trás
Uma mentira hasteada
Um canto anunciado
Símbolos trabalhados

Até cores delinearam
Até imagens fantasiaram
Até Castelos ergueram

Para escravizar
Para esfomear
Para empobrecer
Para aviltar.

Houve, por trás
(como até hoje há)
O discurso evasivo
A insinceridade pública
A mentira deslavada

Recriando a escravidão
Recriando a pobreza
Recriando a fome
Recriando a ignorância.

Houve, por trás
Toda uma teia
Todo um burburinho

De lei e leis
De Instituição e Instituições
De ordem e ordens
De Bandeira e Bandeiras
De Hino e Hinos
De Símbolo e Símbolos

Para re-escravizar o povo
Para re-empobrecer o povo
Para esfomear o povo

Em nome da Democracia
Em nome da Ordem
Em nome do Progresso

Isso, desde Marechal Deodoro,

Aquela Fonseca.

Guina*
2010

Agradeço ao leitor Guina que postou nos
comentários esta poesia que revela
uma verdade infeliz e cruel,
que se extende para além
do meio político alcançando a nossa
sociedade em geral. Poesia que merece
um destaque para pensarmos em nossos
valores e em como mudá-los.